O Centro de Formação da Arquidiocese de Manaus (CEFAM) acolheu no último sábado, 20 de agosto, o Seminário de aprofundamento do caderno Encantar a Política. O evento foi uma iniciativa do CNLB Manaus em parceria com o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES e Pastorais Sociais.
A Rede de Fé e Política, composta por diversas organizações, entre elas o Movimento Nacional Fé e Política, lançou em abril o Projeto Encantar a Política. O objetivo é atuar na formação dos eleitores através de uma leitura crítica do momento atual e que contribua para o exercício da cidadania buscando o bem comum. O projeto busca uma formação e consciência política permanentes, portanto, não encerra nas eleições de 2022.
De acordo com os organizadores do seminário, esse é um projeto que não visa apenas o pleito em 2022 – que ocorrerá em outubro. Para eles, o momento pelo qual o país atravessa é crítico e necessita reafirmar a escolha pela democracia e por candidatos com valores éticos.
O caderno retoma questões centrais das encíclicas do Papa Francisco – Laudato si’ e Fratelli Tutti, da exortação apostólica pós-sinodal, Alegria do Evangelho (AE) – que tratam a Política como consequência do mandamento do amor. Dessa forma, contribui para a prática e engajamento das pessoas ao convite do Papa.
A iniciativa foi organizada pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) – articulação Manaus, Arquidiocese, Pastorais Sociais e Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (SARES), que convidaram como assessor o Pe. Paulo Adolfo, secretário executivo do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP).
No seminário de aprofundamento do caderno Encantar a Política, Pe. Adolfo Simões ressaltou a importância de valorizar três aspectos: a democracia, a urna eletrônica juntamente com o voto e a Constituição Federal. “Precisamos conscientizar-nos que o voto é importante, valorizar o voto. É preciso pensar nas próximas eleições, é necessário um projeto permanente”, disse ele.
O Padre também destacou que a opção por um caderno, diferente das cartilhas, possibilita uma construção coletiva. O objetivo não foi a construção de um guia, mas um texto reflexivo, que possibilitasse a construção a partir de diversas realidades. Destacou também a importância de começar a construir candidaturas de base e mandato popular, que tenham condições de defender aquilo que a base demanda.
A fim de enfatizar esse ponto, o assessor retomou uma frase do Papa Francisco dizendo: “ajudar uma pessoa a atravessar um rio é um gesto de amor, mas construir a ponte para que mais pessoas possam atravessar o rio é um gesto político, beneficia muito mais gente”. A definição de que “a política é a forma mais sublime de viver a caridade”, continua o sacerdote, “é um ensinamento da Igreja presente desde o papa Pio XI e reforçado depois pelo Concílio Vaticano II, pelo papa Paulo VI”.
O caderno tem como objetivo fazer um enfrentamento explícito ao projeto de morte atual, combater os fundamentalismos, a corrupção eleitoral e sobretudo orientar o voto para candidaturas que estão de acordo com as recomendações da CNBB. Padre Adolfo trouxe à tona também o termo necropolítica, do teórico político e historiador camaronês Achille Mbembe. Tal conceito evidencia que um governo escolhe quem pode morrer, ou seja, a morte está atrelada à população pobre e periférica, negra, entre outras, que são indesejadas.
O caderno se subdivide em cinco capítulos:
1. A universalidade do amor cristão
Fala da universalidade do Amor cristão, retomando o ideal das primeiras comunidades cristãs dos Atos dos Apóstolos; traz o conceito do amor ao próximo presente na Fratelli Tutti, a solidariedade como valor, e buscar o bem comum como ampliação e organização política da solidariedade.
2. Amizade social e Ética da Política
Aborda o tema da amizade social e a ética política. Refletimos sobre a Política como “amizade social” e como “ciência e arte do bem-comum”, aspectos da Política que raramente são expostos na vida cotidiana – e menos ainda – nos meios de comunicação e redes virtuais; apresentamos a realidade atual da política no Brasil e proposta para a ação e os diferentes espaços da política.
3. As grandes causas do Evangelho
Vem trazendo as grandes causas do Evangelho; o que a Igreja quer, quando nos convida à ação transformadora no campo da Política; o que política tem a ver com a Evangelização, qual é sua missão específica; Evangelização e Política; a Paz fundada na Justiça; as causas estruturais da pobreza e, finalizando, retomamos a expressão “Civilização do Amor”, cunhada por São Paulo VI e muito querida de São João Paulo II e Papa Francisco para expressar o projeto político que a Igreja quer para a Humanidade.
4. Cuidar da Casa Comum
A partir da parábola do Bom Samaritano vem ajudar a expor a necessidade da amizade social em nossos dias. O Papa Francisco abre o horizonte da espiritualidade cristã para a Política como “ciência e arte do bem comum” e nos convida a dar mais um passo: alargar o âmbito da política para nele incluir a “nossa irmã Terra”; para isso ele se inspira na figura do irmão universal, que é São Francisco de Assis para tratar dos temas Ecologia Integral; Grito da terra, Grito dos pobres e qual o lugar da política.
5. 2022 – Eleições e Democracia
Aborda especificamente as eleições e democracia. Tendo refletido sobre diferentes campos da política como amor social, seguindo o ensinamento do Papa Francisco em suas encíclicas, cabe agora levantar a questão eleitoral. Embora a política seja muito mais do que eleições, este é um tema que não pode ser ignorado. Com mais razão ainda porque o Brasil está numa crise político-econômica que abalou seriamente a confiança do povo nas instituições e o processo eleitoral é o momento mais favorável para um grande debate nacional a fim de encontrar a melhor saída para a crise. Ainda nesse capítulo recorda a crise política e institucional do Brasil; aponta os princípios éticos para um governo de união nacional; destaca o papel dos movimentos populares e sociais e convida a participar ativamente nas eleições pela Boa política, na esperança de um Brasil para todos e todas com justiça e paz.
O seminário contou com aproximadamente sessenta pessoas ligadas aos movimentos sociais e diversas pastorais, com a representação de cada setor da Arquidiocese de Manaus. Também foi transmitido pelas páginas do Facebook do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (@saressj) e da Arquidiocese de Manaus (@arquidiocesedemanaus). Foi concluído com uma bênção especial motivada pelas mulheres, conduzida por uma ministra da palavra do Setor Rio Solimões.
Durante sua estadia em Manaus, o Pe. Paulo Adolfo continua as formações do Caderno Encantar a Política. No último domingo (21), esteve na prelazia de Itacoatiara, com a presença do bispo Dom José Ionilton e lideranças das pastorais sociais. Na terça (23) estará na paróquia Divino Espírito Santo, no bairro Coroado.
Texto e fotos enviados por: CNLB Manaus, Equipe Executiva SARES, Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus.