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‘Amizade social e ética da política’: segundo artigo de uma série escrita por padre Sandoval Alves da Rocha sobre Encantar a Política

O segundo capítulo do Caderno Encantar a Política propõe uma reflexão sobre a política como amizade e fraternidade, uma vez que ela tem a capacidade de unir todos os cidadãos em torno da causa do bem comum. Através da Política saímos de mero palavreado e das boas intenções e praticamos o amor na sua forma mais bela. A política nos permite definir políticas públicas que beneficiam as populações mais pobres, assim com o meio ambiente, que tem sido destruído impunimente nos últimos tempos.

Essa concepção de política é radicalmente diferente daquela que a toma como algo sujo e vergonhoso. Pessoas mal-intencionadas e, geralmente sedentas de poder, se esforçam para que prevaleça uma concepção negativa de política. Assim, elas se apropriam dos poderes públicos sem dificuldades para defenderem os seus interesses e dos seus grupos.

Pessoas que insistem em associar a política à corrupção e às práticas desonestas querem deixar livres os caminhos que podem levá-las ao poder. Além disso, os maus políticos se sentem incomodados com os bons políticos, uma vez que estes denunciam as suas injustiças e desonestidades.

A política na sua acepção mais sublime promove a Democracia na medida em que potencializa a participação de todos e todas. Se todos se interessam pela política as grandes causas da sociedade serão discutidas amplamente, evitando que somente um grupo de privilegiados e “especialistas” tomem as decisões que vão impactar as vidas do conjunto da sociedade. Importa que os Movimentos Populares, representantes dos diversos segmentos da sociedade, tenham espaço e oportunidade de defenderem os seus interesses: terra, teto e trabalho.

Na medida em que os setores mais pobres da sociedade aparecem na cena política é possível vislumbrar uma Democracia mais alinhada às necessidades da população.

Para evitar o nascimento dessa Democracia Popular, os grupos poderosos e privilegiados procuram desqualificar os Movimentos Populares, as Associações de trabalhadores, as lideranças de bairros e representantes de populações vulneráveis, espalhando mentiras e semeando o ódio.

Levados por interesses egoístas, os donos do dinheiro não medem esforços para desmoralizar os bons políticos e afastar a população da Democracia. Visando propagar mentiras contra os políticos éticos, eles usam a grande mídia (TVs, rádios e jornais), mídias digitais (whatsapp, facebook, twitter, tik-tok e outros) e até instituições de forte credibilidade, como igrejas, ONGs e centros de pesquisa. Assim, a desinformação vai-se reproduzindo até destruir moralmente aquele que eles tomaram como inimigo.

No entanto, o Papa Francisco diz que a política é uma sublime vocação. Trata-se de uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Ao abraçarmos a política estamos potencializando uma amizade de grande magnitude e abrangência. Estamos confirmando a nossa pertença a uma grande comunidade, trabalhando para que nela ninguém tenha seus direitos desrespeitados, inclusive o direito à diferença. Nesse sentido, a política também promove a prática da solidariedade.

A Democracia brasileira, mesmo sendo meramente formal e liberal, tem sido ameaçada por grupos fascistas e conservadores. Difundir uma concepção negativa da política é estratégia para enfraquecer ainda mais a nossa democracia, pois afasta a população do protagonismo político e deixa livre o caminho do poder para os políticos mal-intencionados.

Não é por acaso que o atual governo federal tem desmontado diversos conselhos e espaços participativos da sociedade civil. Redescobrir a beleza da política constitui uma iniciativa urgente para a consolidação da democracia brasileira e uma ação necessária para a uma maior efetivação dos direitos de cidadania.

Artigo publicado originalmente no site Amazonas Atual. *Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (MG). Membro da Companhia de Jesus (Jesuíta), atualmente é professor da Unisinos e colabora no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), sediado em Manaus/AM.

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