Ao término de sua Assembleia Geral, no dia 29 de abril, os bispos católicos dirigiram ao povo brasileiro uma mensagem de fé, esperança e de corajoso compromisso com a vida. Seu contexto é a grave crise sanitária que tornou, nas palavras do episcopado, “mais intensa a crise ética, econômica, social e política que já nos desafiava bem antes da pandemia, escancarando a desigualdade estrutural”. Os bispos alertam: o Brasil não vai bem! A fome e a insegurança alimentar são um escândalo. E continuam: “assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum”. Disso são exemplos “a dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais”.
Alertam que não podemos nos deixar anestesiar e ignorar o “clima de tensão e violência em que vivemos no campo e nas cidades. A liberação e o avanço da mineração em terras indígenas e em outros territórios, a flexibilização da posse e do porte de armas, a legalização do jogo de azar, o feminicídio e a repulsa aos pobres, não contribuem para a civilização do amor e ferem a fraternidade universal”.
Depois de fazer um apelo aos governantes em favor de “grandes e e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988”, os bispos estimulam a participação no processo eleitoral deste ano. Alertam contra “a lógica do confronto que ameaça o estado democrático de direito, transforma adversários em inimigos, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados”. Denunciam as “tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente”, para “colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto”.
Em sintonia com esse apelo dos bispos, a Rede Brasileira de Fé e Política e o Conselho Nacional do Laicato do Brasil acabam de lançar o projeto Encantar a Política para incentivar agentes de base da Igreja a participar responsavelmente da política. Quem cumpre esse papel de incentivador é o próprio Papa Francisco, por meio de suas encíclicas Fratelli Tutti (FT) e Laudato si’ (LS) e a exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG). Elas são como trilhas que se abrem para nossa caminhada pelo complexo terreno da Política.
A entrada se dá quando a pessoa descobre a Política como gesto de amor: “Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constróilhe uma ponte, e isto também é caridade” (FT 182). É o mesmo amor ao próximo de que fala Jesus na conhecida parábola do samaritano: próxima é também a pessoa distante de mim, a quem demonstro amor fazendo-lhe o bem, mesmo sem conhecer. É o que faz a Política ao exercer o Poder Público para cuidar dos bens comuns. Retoma-se então a clássica definição de Política como “ciência e arte do bem comum”.
Em seguida o Papa levanta uma questão bem prática: “não se pode ignorar que os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos” dão uma imagem negativa da política. Contudo, “poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (FT 176). Diante disso, diz Francisco: “Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (EG 205). Assim se realizará o sonho dos Papas Paulo VI e João Paulo II:
construir a civilização do Amor, uma civilização planetária fundada na Paz universal e na Justiça social.
Enfim, Francisco nos convida a fazer Política para o bem da Terra, nossa Casa Comum, hoje devastada por um “sistema econômico que mata”. Mata a Terra e os Pobres, cujos gritos a Igreja deve escutar e atender. E isso deve começar logo! O processo eleitoral brasileiro já está em andamento, e os cristãos não podemos ficar alheios a ele: devemos nos deixar encantar pela Política e praticar a boa Política, interpelados por nossos bispos. Se “o quadro atual é gravíssimo e o Brasil não vai bem”, isso não pode ser motivo para desânimo, mas sim para renovar a esperança que nos dá forças para participar do processo eleitoral apoiando candidatos e candidatas que levem a bandeira da Democracia e dos Direitos Humanos.
Este é o momento de organizar-se e trabalhar para que o povo católico, convocado por Francisco e pelos bispos do Brasil, responda a seus apelos e se mobilize em defesa da democracia, da Justiça, da paz e do cuidado com a nossa Casa Comum. O leitor ou leitora que queira aprofundar o tema poderá acessar: https://cnlb.org.br/encantarapolitica/