As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) já nasceram encantadas pela política. E por esta razão, entre outras, também foram perseguidas. No DNA delas está a política, como está a dimensão sinodal e a espiritualidade do seguimento a Jesus de Nazaré.
Contudo, as últimas décadas foram permeadas com um forte movimento de descredibilidade de ações nas quais pudesse ter na política uma ferramenta de promoção da justiça. O poder dominador precisa criar inimigos nos quais se possam identificar as mazelas da sociedade e aí canalizar ações que desviem das causas mais profundas que verdadeiramente produzem a injustiça. Até setores consideráveis das igrejas sucumbiram diante de tal realidade. Como não lembrar o Evangelho: “Tudo isso te darei se prostrado me adorares”.
Mas as CEBs não sucumbiram. Diminuíram de tamanho, permanecendo firmes, atualizando-se diante dos novos desafios, como a cultura urbana, para manter vivo o Projeto de Jesus Cristo.
As CEBs são Igreja, e não movimento. Por isso, estamos juntos no projeto Encantar a Política, mas não como uma entidade, e sim como batizados que buscam estar dentro dos processos que procuram ser sinais da presença do amor cristão no meio do mundo. Muitos e muitas de nós participam em várias instâncias eclesiais, como no Conselho Nacional do Laicato do Brasil/CNLB, por exemplo. Queremos ser sal da terra, fermento na massa, luz no meio do mundo!
Nesta hora extremamente desafiante pela qual passa o nosso país não nos omitimos. Estamos juntos e juntas, apostando em iniciativas que possam cooperar para um mundo mais justo, fraterno e solidário, em profunda sintonia com os pobres, as pobres e marginalizados/as. E como diz o Papa Francisco, isso é Evangelho e não comunismo.
Nestes anos de perseguição avaliamos e aprendemos muito. Uma lição fundamental é que nunca devemos ajudar os pobres sem eles, mesmo que seja para eles. Alerta que Francisco vem dando com insistência. Não podemos abandonar os movimentos populares ou utilizá-los como ferramentas que servem a projetos específicos. Uma nova sociedade só surgirá com eles e de baixo para cima.
Sim, somos todos e todas irmãos e irmãs. Não podemos discriminar ninguém. O amor cristão é universal. A ética não pode ser apenas um conceito bem definido em documentos, mas um conjunto de princípios que direcionam o nosso agir na sociedade, em fidelidade ao legado de Jesus da Nazaré. Devemos, em cada novo momento da história, recordar quais são as grandes causas do Evangelho. Hoje, por exemplo, é impossível não colocar o cuidado da comum como uma causa fundamental.
Portanto, as CEBs, com humildade, mas com firmeza, não poderiam deixar de estar mergulhadas no projeto Encantar a Política. Projeto que não visa apenas a eleição do momento, mas que pretende deslanchar processos. Retomando a sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja, vamos cooperar para que a Política, sim com “P” maiúsculo, possa ser compreendida como “a melhor forma de fazer a caridade”, como já indicava PIO XI, repetida por São Paulo VI e agora retomada por Francisco.
Contudo, insistimos, também não nos omitiremos diante deste momento da história no Brasil. Ainda não temos à frente exatamente em qual modelo de sociedade iremos apostar, mas sabemos que para alcançar qualquer modelo precisaremos da Democracia. Destruir a Democracia é um crime hediondo, pois impossibilita que minimamente se possa defender a vida de forma ampla e irrestrita. Projetos de usurpação da força de trabalho de homens e mulheres que gastam suas vidas mais para sobreviver do que para viver, são apresentados com mecanismos que induzem mentes e corações a se submeter cada vez mais a uma escravidão de si mesmos, aproveitando de meios de comunicação que alcançam dores profundas da subjetividade humana.
As CEBs se recusam a desistir. Vamos continuar cantando “Utopia” enquanto não vislumbrarmos um Brasil, quiçá o mundo todo, onde a dignidade fundamental de toda e qualquer pessoa humana possa ser garantida. Por isso, estamos absolutamente de mãos dadas com o Projeto Encantar a Política.
Artigo de Celso Pinto Carias – assessor da Ampliada Nacional das CEBs.